Praia, sol e…muita ciência!


Sabe aquela história de largar tudo e ir montar uma pousada no Nordeste? Tem gente que anda largando tudo sim, porém é para fazer ciência. O Instituto Internacional de Física (IIF) é a segunda instituição de pesquisa a se instalar em Natal (o primeiro foi o Instituto Internacional de Neurociência), cidade que tem entre os principais atrativos o calor e beleza de suas praias. O grupo está completando um ano na capital potiguar e, em reunião do comitê científico no começo de abril, contou com a presença do prêmio Nobel de Física, David Gross (2004).

O IIF tem objetivos ousados de modificar a produção científica de Física no Brasil e até mundial. Para alcança-los, aposta na multidisciplinaridade e na internacionalização de seus pesquisadores para atuarem na pesquisa de “fronteira”. Além de David Gross, mais dois outros cientistas ganhadores de Nobel fazem parte do comitê científico internacional do Instituto (Gerardus `t Hooft – 1999 e Claude Cohen-Tannoudji – 1997). A entidade ainda arrebanha 25 nomes da pesquisa brasileira em Física dentro do seu comitê nacional de especialistas.

O grupo estava estabelecido há mais de 20 anos na Universidade de Brasília (UnB) e a transferência se deu após conflitos com a instituição. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) se prontificou a receber o núcleo, oferecendo todas condições para a transferência e instalação do Instituto na cidade. Cerca de 30 pessoas foram deslocadas e ainda esperam contar com mais quatro professores fixos com preferência para “jovens desde que talentosos” e cerca de 12 bolsistas de pesquisa de curta ou longa permanência vindos de diversas partes do mundo. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) é um dos financiadores da iniciativa.

O diretor do IIF, o físico pernambucano Álvaro Ferraz, nos recebeu para entrevista na sede provisória do Instituto localizada próximo ao campus da UFRN. Na conversa, o diretor fala sobre as motivações, receptividade e planos do núcleo, que ainda está em instalação. “Como se diz, mudamos de mala e cuia para Natal”, brincou. Além da chegada dos novos pesquisadores, uma das principais expectativas é a da construção do próprio prédio dentro do campus dentro de dois anos e a chegada de um super computador mais brevemente.

Internetcidade_O que pretende o Instituto de Física de Teórica de Natal?

Álvaro Ferraz_O nosso grande papel será de alavancar as novas áreas da Física, que chamamos de áreas de fronteira. Será um espaço aberto para os pesquisadores de todo o país, e de certo modo, do mundo, exercerem sua criatividade, fazerem seus trabalhos dentro de um ambiente de pesquisa inspirador e que facilite a elaboração de suas ideias. Ciência não é uma coisa burocrática, tem de procurar ser criativo e inovador. Um outro cuidado é que as pessoas não sejam perseguidas por serem inovadoras. O Instituto deve ser este espaço de produção.

IC_O que são essas áreas de fronteira?

Ferraz_São áreas novas que estão sendo alvos de grande avanços e cuja repercussão permeia para outras áreas da ciência. A Física atua quase como uma linguagem para outras ciências como a Química e a Biologia, onde os novos conceitos são utilizados largamente. Tem um amigo meu que diz que Física é tudo o que os físicos fazem…[sorri]

IC_Por que deixaram a Universidade de Brasília?

Ferraz: atraído pela UFRN, agora o Instituto busca atrair pesquisadores do mundo inteiro

Ferraz_Houve um impasse com a UnB a partir do processo de negociação com o Ministério da Ciência e Tecnologia para que houvesse uma dotação orçamentária. E se começou a questionar essa nossa independência, não oferecendo também as posições permanentes [de professores] que precisávamos. Com o impasse, o comitê internacional de pesquisadores do Instituto recomendou a nossa saída. O Ministério também  concordou com a mudança, ao mesmo tempo em que tivemos a aproximação com a UFRN. O reitor foi caloroso e receptivo e concordou com todas os nossos pleitos. A UFRN foi rápida e deu a resposta que queríamos ouvir.

IC_O comitê internacional é formado por cientistas de renome de várias partes do mundo. Além disso, a seleção para professores e pesquisadores é aberta para o mundo inteiro. O que tem atraído e motivado estes cientistas a se envolverem com o Instituto?

Ferraz_São vários fatores. O Brasil é um país que está na moda e temos também pessoas de muita credibilidade envolvidas neste processo. O local –a cidade de Natal– ajuda também, por ser ainda relativamente pequena, sem muitos problemas. Agora há pouco, falei com uma candidata de Madri, que se preocupava com as notícias de violência no país. Reforcei para ela que Natal não é uma Rio ou São Paulo. Um dos motivos de não termos optado por grandes cidades é que, em geral, estes institutos ficam melhores em locais menores, onde as pessoas não tenham tanta dificuldade de se viver e locomover. A cidade é portanto um aspecto de atração. Claro que Natal tende a crescer, mas esperamos que não seja tão brusco ou traumático como em outros lugares.

Projeto da futura sede do Instituto Internacional de Física: as dunas como inspiração

IC_E ficar perto da praia também ajuda a atrair?

Ferraz_Está ajudando também, por que não? [sorri]. O Instituto de Santa Barbara [Kavli Institute, de David Gross], por exemplo, fica na Califórnia (EUA), perto da praia. Ele foi construído por um edital e a universidade  da Califórnia foi a vencedora. A partir dele vários outros institutos foram criados [na Universidade]. Santa Barbara tem praias, é bonita, atraente, mas só que, modéstia à parte, não chega aos pés daqui porque lá é frio e a água é gelada. Não devemos nada em termos de belezas geográficas.

IC_A vinda do IFF teve alguma articulação com o Instituto de Neurociência, já instalado em Natal?

Ferraz_Não. Eu não conhecia Natal, embora conhecesse alguns colegas de departamento. Mas, de fato, a presença do Instituto de Neurociência aqui foi um atrativo para que o Comitê do antigo centro de Brasília apoiasse a mudança. Já cria esta cultura da internacionalização do saber, aberto, com todas essas pessoas internacionais circulando por aqui.

IC_O Instituto de Neurociência tem encontrado algumas resistências e críticas desde a sua instalação em Natal. O Instituto de Física sofre algo deste tipo?

Ferraz_Essas novas estruturas têm este papel, sofrem essas resistências e oposições muitas vezes infundadas e sem critérios. Há, sem dúvidas nenhuma, ciúmes localizados aqui e ali, mas são questões menores. No momento em que se vê o resultado, a projeção e a importância da produção, as resistências tendem a decair. Eu sou um eterno otimista. É um trabalho de médio e longo prazo, de persistência, e temos de estar com a cabeça bem animada. Há também um caráter pedagógico de mostrar a importância de se ter professores titulares ainda jovens, um caminho que o Instituto de Neurociência também tem tomado.  É assim que se tem ciência, pois ela tem de ser fundamentalmente original. E não se tem ciência original com 60 ou 70 anos de idade.

IC_Ao lado do Instituto de Neurociências, a presença do Instituto de Física abre possibilidade para Natal se tornar uma capital da ciência brasileira?

Ferraz_Creio que sim, a cidade tem tudo para crescer em outras áreas também. Por exemplo, a Universidade de Kyoto tem o Instituto de Física Teórica que foi criado a partir da doação de um físico ganhador de prêmio Nobel. Em seguida, foram criados por lá outros institutos de Matemática, Química etc, que convivem lado a lado com os departamentos da Universidade e estes têm suas atividades alavancadas pela presença desses institutos. Essa estrutura é fundamental, pois permite a interdisciplinaridade de pesquisa com mais facilidade.

Para o físico Álvaro Ferraz, seria irresponsabilidade dizer em quanto tempo o Brasil teria um prêmio Nobel em Física. Mas o fluxo de pesquisadores repercute localmente e cria novas raízes, além do que talento e entusiasmo não faltam ao Brasil. É só criar apoio necessário para vencer uma estrutura ainda tacanha do País. Daí, um Nobel será apenas uma consequência.

IC_Como o Instituto se insere no contexto da Física brasileira?

Ferraz_A resposta que a comunidade [científica] deu ao Instituto mostra que estamos maduros. É o momento ideal para se fazer algo desta natureza. Acho que há um interesse natural para se criar este Instituto, e de que as pessoas possam vir pra cá. Para mim, é um sinal de maturidade, de desenvolvimento, de vibração dos estudantes, principalmente aqui do Nordeste brasileiro, em se fazer estudos de Física Teórica.

IC_Qual a percepção quanto a isto, de se instalar na região Nordeste?

Ferraz_Há um entusiasmo enorme! Aqui no Nordeste há muita coisa represada, compartimentalizada, e de forma geral, a própria visão do CNPq quanto a isso ainda é muito restritiva. Estamos fazendo experiências novas, isto abre para muita coisa. E para a juventude é fundamental. Imagine um calouro da UFRN ter uma aula inaugural de um prêmio Nobel de Física… isto é muito bom! Nossa ideia é promover, sempre que possível, aulas públicas com as personalidades. Ciência também é cultura. Temos de investir nisto.

IC_E uma pergunta que precisa ser feita…quando teremos um prêmio Nobel, especialmente de Física?

Ferraz_Creio que estas coisas acontecem naturalmente. Se eu fizesse uma projeção de tempo, estaria sendo irresponsável. Com certeza, o que podemos fazer e vamos fazê-lo é criar as condições para que os talentos naturais se desenvolvam e frutifiquem. O que eles precisam é de apoio, pois não falta talento no Brasil. Temos uma estrutura muito tacanha ainda no país. Mas os melhores físicos vão passar por aqui e isto, certamente, repercute e cria raízes. Daí, é só deixar os talentos aparecerem. E quando aparecem, o prêmio Nobel será conseqüência, porque também é algo político. O Instituto potencializa tudo isto e, claro, esta é uma das nossas missões.

Iñárritu volta a sujar a tela de cinema e a limpar a vida com “Biutiful”

O cinema andava meio asséptico. Tramas muito limpinhas, rápidas, sem profundidade. Entretenimento sempre fácil, dentro do script mais do que consolidado vindo de Los Angeles. Mas o diretor e roteirista mexicano Alejandro González Iñárritu chega para reanimar a festa. Na verdade, suja a tela de cinema com os principais dramas da humanidade concentrados em duas horas e meia de película a 24 quadros por segundo: imigração clandestina, drogas, a dissolução da família, o drama da morte iminente, a vida sempre buscada (mesmo que nas drogas), a espiritualidade, a dificuldade de ser pai e de ser mãe, de ser filho e filha, de ser família como numa propaganda de margarina com todas as suas idiossincrasias e leis freudianas, a carência do amor nunca correspondido (ou que achamos nunca ser correspondido), os mortos que insistem em não nos deixar, o samaritanismo, a piedade e a culpa cristã, a exploração e o sentido de um mundo capitalista.  Onde vamos parar? É a velha e atávica questão nunca respondida.

Iñárritu produz em Biutiful o compêndio atual da miséria humana com as pitadas da dramaticidade latina. Revela que miséria é miséria em qualquer lugar, em qualquer raça (a Barcelona dos sonhos de uma Vicky Cristina se transforma em viela de uma Cidade do México de Amores Brutos). Se torna mais miserável ainda quando se desloca, quando se perde a identidade. Ou melhor, ganham uma outra. É o Les Miserables moderno. Não poupa o que há de mais limpo, a Europa, que sonha alto, que um dia quis e ainda quer ser um mundo asséptico. Também sonham alto os imigrantes, que deixam suas terras por uma vida supostamente melhor. A escravidão “branca”, “amarela” e “negra” estão lá, embora todos sejam humanos (e se possa ser escravo em sua própria casa). Não é bem um mundo “biutiful” que encontram, morrem na praia, no suposto paraíso. O recado é: não há nenhum paraíso. Mas continuamos a sonhar com campos tranqüilos de neve. Com o eterno retorno.

Iñárritu faz de Biutiful um compêndio da miséria, é o Les Miserables atual. Mas, ele mesmo declarou que  é o mais esperançoso entre os seus filmes

A máquina capitalista surge com todas as aberrações, do poder, símbolo e trocas do dinheiro indo dos produtos Louise Viton´s falsificados ao Real Estate, que não resguarda nem mais o cemitério, o lugar sagrado de descanso dos nossos entes queridos (talvez nem tão queridos assim, dependendo da herança ou dívida deixada). E cujos corpos mortos ainda geram uma espécie de derradeira herança, da última valoração. “Você teria coragem de usar esta bolsa? Você acha que isto está suficiente bom?”, reclama um dos capatazes a uma operária chinesa sobre a qualidade de um dos produtos falsificados. Não é mesma ladainha promulgada na assepsia das salas de CEO´s e de RH´s das grandes corporações, só que em outras operações linguísticas? Nada está nada bom. Nada que não possa piorar.  Nada que não possa ser melhor.

Javier Bardem como Uxbal: a busca é por deixar, além de uma herança, uma lembrança

Mas o tema central de Biutiful não é a miséria ou a exploração em nome do lucro. É apenas mera conseqüência de uma complexidade existencial. O tema central é a tal herança. O valor. Da perda, da vida, do símbolo do amor, de algo que nos liga ao passado, às origens, que nos dá o presente, da necessidade de deixar uma vida melhor para as nossas proles para que tenham uma vida cada vez melhor. Ou menos ruim. Só que isto ainda não é suficiente. A maior herança que o personagem de Javier Bardem luta para deixar, além da material, é a de um de rosto a nunca ser esquecido por seus filhos. O esquecimento é a pior morte para os mortos (e o maior erro em vida é negar a morte, deixa como um espécie de recado a “espírita” do filme).

Porém, acredite, com toda a miséria da alma humana, que flutua e se aprisiona sob tetos, que se transforma feito mariposas, Iñárritu não é pessimista. Ele mesmo chegou a declarar que era o mais esperançoso de seus filmes (21 Gramas, Amores Brutos e Babel). O que nos sobra como esperança? Talvez um dia reencontremos os nossos entes queridos, que nos deixaram de herança a nossa vida e um mundo desterrado em nome dessa mesma herança de continuar a vida.

Amor é o caralho!

O Amor é o Caralho!

– Tão forte quanto “O Amor é importante!“.
– Ou tão desnecessário que não se está nem aí.
– Tão desnecessário dizer que não se importa com o amor.
– Ou é a coisa mais importante…
– O amor ou dizer que não é importante?
– É uma espécie de resposta ao outro?
– Vai saber…
– Qual é o seu sentido então?
– Quer nos contar?

Pernambuco deixa de contar homicídios

O PE Bodycount em uma das suas açõesCom a marca de quase 2.500 assassinatos neste ano (até setembro), o site PEbodycount anunciou o fim de suas atividades. A Organização não-governamental criada por quatro repórteres de polícia tinha como objetivo acompanhar todos os homícidios de Pernambuco, ao mesmo em que discutia as políticas públicas de segurança. Para conhecer mais sobre a iniciativa, veja entrevista realizada em maio de 2009 aqui no Internecidade com o jornalista Eduardo Machado, um dos fundadores da ONG.

O site PEbodycount era uma das mais importantes ações para acompanhar de forma independente a escalada da violência em Pernambuco. O Estado é um dos mais violentos do País, com Recife figurando como a capital mais violenta, com ocorrências superiores a muitas regiões de guerra. Segundo dados da própria ONG baseados no IBGE, quatro anos atrás foram registrados 4.638 assassinatos no Estado, enquanto os 25 país da União Europeia contabilizavam juntos 6.697 homicídios em uma população total de 459 milhões de habitantes. Em 2009, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco divulgou o registro de 4.015 homícidios.

“Este é o nosso cenário. É onde trabalhamos. A quantidade de cadáveres mensais produz uma monotonia assustadora. Por vários anos, os nossos mortos foram solenemente ignorados. Esquecidos por todos. Não só pelas autoridades. E foi justamente no meio de tanta morte e indiferença que surgiu o Pebodycount”, colocam sobre o que motivou a criação da ONG.

Ainda segundo os próprios editores na carta de despedida, a iniciativa se encerra depois de mais de três anos e meio de atividade devido ao cancelamento do patrocínio para manutenção da equipe de apuração e manutenção do site. A ONG contabilizava mais de 14 mil assassinatos em seu banco de dados, o maior do tipo realizado por uma organização não-governamental.

Apesar do fim do site e ainda contar com índices excessivos de violência, o grupo de jornalistas se sente com o dever cumprido de levantar e discutir a pauta da segurança pública em Pernambuco. Também prometem se manter atentos à temática. Para eles, o Governo do Estado já vê a questão de forma diferente e há  uma ponta de esperança com a tendência de queda dos índices  nos últimos anos.

“O fato é que, pela primeira vez no Estado, o governador percebeu que não adiantava repetir o mantra de que o problema da violência era nacional. O entendimento oficial mudou. As mortes são sim um problema de Pernambuco. O governo tem sim responsabilidade pelas pilhas de cadáveres acumulados no IML. Reconhecer o problema era o primeiro passo. E, neste ponto, acreditamos que contribuímos para este entendimento. A missão foi cumprida”, afirmam.

Cansaram de ser moderno

Cansei de ser moderno...talvez nunca tenha sido– Cansei de ser moderno!

– Talvez você nunca tenha sido…

E agora, Harvey?

(Na porta da subestação da Eletropaulo, na rua Augusta).

A busca pelo amor nos dias de hoje

Daniela Arrais/Divulgação

O que é o amor pra você hoje? Com esta pergunta a jornalista e blogueira Daniela Arrais entrevista e grava em vídeo diversas pessoas, de celebridades a presidenciáveis (veja vídeo abaixo), de garotos à doutores e poetas que estão acostumados aos dramas, delícias, dores e vícios das coisas do amor. Já são mais de 50 entrevistas, mas segundo ela própria, não é a pessoa mais organizada do mundo, e acabou deixando alguns de lado e ainda tem vários guardados. Em seu blog-site Don’t Touch My Moleskine, Dani mantém outras séries no mais fidedigno estilo colaborativo da rede na qual várias pessoas participam com textos sobre as dores do fim dos amores denominada de “Fratura Exposta” e também “Eu quero uma vida lazer” (referência a uma das personagens do filme “Viajo porque preciso, volto porque te amo”, de Marcelo Gomes and Karim Aïnouz). Nesta última, as pessoas participam com imagens que traduzam esta vontade.

Internetcidade_Como começou essa história? Como você tem colhido os depoimentos?

Dani Arrais_Eu tinha acabado um namoro turbulento, já não sabia mais o que fazer pra não chorar, sofrer, pensar na perda o tempo todo. Aí resolvi sair um pouco da minha cabeça e do meu coração pra ver o que as pessoas tinham a me dizer sobre essa grande coisa que é o amor. Pergunto quando dá vontade (e quando estou com a câmera, lógico). Fico com vontade, explico que tenho uma série no blog em que pergunto a mesma coisa pra um monte de gente e faço a pergunta.

IC_Pra você, quem melhor definiu o amor nos dias de hoje? Ou de quem você gostou mais?

Dani_Gosto de todos, de verdade. Mas tem uns que são de cair o queixo, como o Xico Sá, o Contardo Calligaris, um menino chamado Ash, uma senhora chamada Clarice… Sou apegada a todos!

IC_Nesta busca, o que você tem descoberto sobre o amor?

Dani_Que ele pode ser diferente sempre. Mas que é a coisa que todo mundo quer e busca na vida.

IC_Mas não há algum problema em se perguntar o que o amor nos dias de hoje? O amor não é e sempre será o amor?

Dani_Sempre será, mas ele muda tanto, né? Ou é a gente que muda? Imagina quando a gente tinha 13 anos…era tão diferente. O amor que eu senti há um, dois anos, é diferente do que eu vou sentir daqui a um ano, dois anos. Eu gosto do recorte do hoje porque tira o peso de dar uma definição só pra uma coisa que muda tanto com o tempo e com a vivência.

IC_E o que é o amor pra você hoje?

Dani_Acho que é uma saudade sem destinatário certo.

Veja um dos vídeos da série “O que é o amor pra você hoje?”, com a ex-ministra e candidata à presidência Marina Silva.

A montanha de desafios da Tour de France

Time amador da Nike se prepara para a largada da Tour de France em 2009

Pirineus, França, verão europeu, 28o graus. Destino de sonhos. O jornalista e ciclista amador Wagner Costa estará lá no próximo domingo (18/07) mas nada de férias. Ele enfrentará a L’Etape du Tour, uma das etapas da Tour de France, a mais famosa corrida ciclística da Europa. Essa etapa é reservada aos participantes amadores, mesmo assim serão no mínimo oito horas em cima de uma magrela. Em meio a muito esfroço e dor, mal terá como ver a paisagem das três montanhas que subirá– de 10, 22 e 19 quilômetros –em um dos melhores cenários da França. Mesmo assim, ele quer apreciar. Sua meta é fazer, acredite, uma corrida relaxada, sem ter que provar nada a ninguém (inclusive a ele mesmo). “Vou aproveitar o dia o máximo que puder. A região é uma das mais bonitas. Mas dito isto, também vou pra fazer tempo. A L’Etape du Tour não é um passeio no parque. É uma corrida. E minha expectativa é completá-la por volta de 9 horas. O tempo final, que seria um sonho, é de 8 horas”, informa.

Mesmo como amador, para chegar lá Wagner treinou oito meses. Residente há 10 anos na Holanda, onde trabalha na Nike, foi do inverno holandês de 6 graus negativos ao verão de 38 graus em pleno verão de Natal, no Nordeste brasileiro, para visitar a família. Alcançou velocidade máxima de 59 Km/h no plano e 72 Km/h em descida. Média de ritmo cardíaco de 146 batidas por minuto com pico máximo de 195 batidas por minuto, registrando máximo de potência de 320 watts. O treino mais longo foi de 9 horas. Foram ao todo 31 corridas, totalizando 98 horas, 70 mil calorias e 2.500 quilômetros. São menos 1.000 quilômetros percorridos do que em 2008/2009 –os treinos foram atrapalhados pelo rigoroso inverno europeu deste ano- compensados com treinamento indoor e mais planejamento para a própria corrida.

Wagner corre com mais de 50 corredores que integram a equipe amadora de empregados da Nike composto por holandeses, franceses, italianos, entre outras nacionalidades. Vão usar o uniforme do LiveStrong, fundação criada pelo ciclista Lance Armstrong para angariar fundos para pesquisas de cura do câncer (Armstrong ganhou sete títulos consecutivos da corrida após ter se recuperado de um câncer). Esta é a segunda etapa a ser cumprida pelo corredor brasileiro. Para se ter uma ideia do que é enfrentar uma prova dessas, o Internetcidade publica o relato da prova do ano passado. Momentos angustiantes se confundem com o êxtase de concluir a Etapa. Nem que seja para si mesmo, distante do primeiro lugar, faltando apenas alguns minutos para o encerramento da prova. Abaixo, segue a entrevista na qual o ciclista fala da sua expectiva para a prova dos Pirineus. Você também pode acompanhar o treinamento no próprio blog do Wagner Costa.

Internetcidade_Qual é a expectativa para a corrida deste ano?

Wagner Costa_Eu divido minhas expectativas em vários níveis. Em relação ao geral da prova, quero fazer uma corrida sem histórias pra contar. Quero subir na bicicleta, pedalar tudo o que eu tiver condições física e psicológica e chegar ao final. Em relação ao tempo, tenho 3 objetivos. Um resultado de sonho: 8 horas. Um resultado mais realista: Entre 9 e 9h30. E um resultado mais provável: 10 horas.

IC_Qual será o principal desafio desta etapa?

Wagner Costa_O que torna a etapa uma prova muito difícil para os amadores é a questão dos tempos de eliminação. A prova começa às 7h e às 7h40 sai o carro da desclassificação. Esse carro anda a uma velocidade constante de 19 km/h. O ciclista que for ultrapassado por ele é desclassificado. Então, na verdade há que se manter uma velocidade constante de 30 km/h nas áreas mais planas para ganhar espaço na frente do carro para quando chegar nas subidas mais fortes. A primeira montanha é chamada Col de Marie Blanque, que tem 10 km dos quais 4 são muito duros (+/- 13% de inclinação) e a segunda montanha é o Col de Solour, que tem 20 Km dos quais 10 Km são em média de 8% de inclinação. Mas o mais complicado de tudo é que a montanha mais pesada sempre fica no final. Esse ano, vamos pedalar por 154 Km até chegar ao pé do Col de Tourmalet e depois enfrentar os 19 Km de subida. Dos quais 10 Km são acima dos 9% de inclinação e os últimos 3 Km por volta dos 13%… As pernas já estão mais do que cansadas e a maioria do trabalho ainda tem que ser feito.

IC_Há ainda outros obstáculos?

Wagner Costa_Sim, há portões de eliminação, três para ser mais preciso. Um ao Km 112, outro no pé do Col de Tourmalet e outro na chegada. Mesmo que se chegue na final, se chegar depois do tempo de eliminação, não se ganha a medalhinha e aparece na classificação geral como desclassificado. É por isso que há uma média de 50% de desclassificados e 2/3 que ou não completam a prova ou completam depois do prazo limite.

IC_O que você prevê como “ponto alto” desta etapa?

Wagner Costa_O ponto alto mesmo vai ser o Col de Tourmalet, uma montanha que faz parte do Tour de France há 100 anos. É um lugar extremamente bonito. Ao mesmo tempo que você sofre com a subida, dá prá ver paredões de pedra, quedas d’água, vales etc. E ao mesmo tempo é muito difícil de pedalar. Garantido que boa parte dos últimos 10 Km o ritmo cardíaco vai ficar por volta dos 170 Batidas por minuto…até os profissionais sabem o quanto ela é difícil. Já subi a montanha há 3 anos e mal posso esperar para estar lá outra vez.

IC_Qual o significado e sensação de chegar ao fim de uma maratona física desta?

Wagner Costa_O L’Etape du Tour é uma das provas mais duras para amadores. É mais difícil que uma maratona por causa da distância e dos limites de tempo. Eu treino por 8 meses para conseguir terminar a prova. Então terminá-la é sempre uma vitória pessoal. Terminar a prova de 184 Km junto com outros 9.500 ciclistas muda a sua forma de encarar desafios e ter tenacidade para continuar, mesmo que os obstáculos sejam aparentemente gigantes. Há estudos que dizem que o treino e a corrida inclusive mudam a constituição do seu cérebro e como encarar a vida em geral.

Leia o depoimento de Wagner Costa sobre a prova da Tour de France de 2009.

Dor e êxtase na Tour de France

Do sonho ao começo do pesadelo: últimos quilômetros antes do topo do Ventoux.

Num domingo de sol…

Holanda, Julho de 2009.

Dois anos e meio atrás eu resolvi fazer ciclismo. Sempre gostei de bicicleta e num domingo acordei cedo e resolvi começar a pedalar. Por acaso foi o dia que minha filha resolveu nascer. 22 de Abril de 2007, 30 graus, sol aberto sem uma nuvem no céu. Dois anos depois resolvo participar da etapa amadora de ciclismo da Tour de France onde percorremos o percurso exato que os profissionais farão uma semana depois. A etapa: 172 km de Montelimar ao lendário Mont Ventoux, o gigante da região de Provence. A montanha tem 22 Km de subida. Quase me mato para completar a prova.

E qual a relação disso com minha filha e o calor? Bem, a explicação está no texto abaixo. Um email que mandei para os amigos quando voltei para Holanda. Ao ser convidado para publicá-lo no blog, pensei em torná-lo mais jornalístico. Resolvi que não. O texto abaixo foi escrito de uma tirada só, dois dias depois da prova e enviado sem revisão. Pouca coisa poderia ser mais fiel ao momento que eu havia passado, o estado de espírito que eu estava, no “calor da coisa”. Aquilo tudo significou muito para mim: superação pessoal, entender o quão importante as outras pessoas são pra gente e como elas nos influenciam sem nem perceberem. E o que significa ter determinação de verdade para alcançar um objetivo.

Bem, boa leitura. Como escutei  uma vez: chegar ao topo do Ventoux e olhar para região de Provence é uma conquista que a gente leva pro resto da vida. Que, por meio desse depoimento, vocês possam me acompanhar nesta aventura.

Estou de volta. Vai ser difícil descrever o que foi a corrida. Mas tentando resumir posso dizer que foi 60% fantástico e 40% um pesadelo! Eu terminei com um tempo de 10h20 minutos. O lado bom é que eu terminei dentro do tempo para não ser eliminado: eles fechavam a linha de chegada às 17H30 e eu cheguei as 17h21. O lado ruim é que eu tinha o objetivo de terminar antes das 10 horas e de subir o Mont Ventoux em menos de 3 horas (queria fazer 2h40m e terminei fazendo em 3h41m).

Até chegar por volta dos 60% do caminho eu estava indo muito bem. Estava uma hora e meia a frente do tempo previsto. A coisa estava indo rápido com uma média de 30km/h (+- 15km/h nas subidas e 60km/h nas descidas). Tava me sentindo forte e confiante. Mas quando chegou por volta das 11h horas da manhã eu comecei a sentir náusea. Acho que o calor começou a apertar alí e a comida/bebida que eu estava usando não caiu muito bem com o calor. Quando desci na cidade de Sault, eu estava com uma vontade de vomitar incrível.

…Eu estava indo muito bem, me sentindo forte e confiante. Mas o calor apertou e comecei a sentir náusea. Quando cheguei no pé do Mont Ventoux, com uma subida de oito quilômetros pela frente, foi ali que o pesadelo começou…estava prestes a vomitar, tonto e me sentindo fraco…

Dali até a cidade de Bedoin tem uma subida parecida com aquela que vai de Búzios para  Tabatinga (no Rio Grande do Norte), mas com 8 quilômetros de distância. E foi ali que o pesadelo começou a apertar. Quando cheguei no pé do Mont Ventoux eu estava pronto para vomitar a qualquer momento, tonto e me sentindo fraco. Bebi um litro de água, lavei o rosto e comecei a escalada. Para se ter uma ideia, a subida é assim: 7 km de subida fácil (inclinação 6%) seguido de 10 km de subida difícil (inclinação 10%) seguido de 2 km de subida fácil (inclinação 6%) e prá finalizar um pouco mais de 2 km de subida muito difícil (inclinação 13%). 10% é mais ou menos aquela ladeira que vai do Hospital Universitário para Ribeira (em Natal-RN). 13% é mais ou menos a parte da ladeira das virgens. (Nt. Ed.: as esteiras de academia sobem a 15% para atingir os picos de ritmo cardíaco).

(Clique aqui para continuar)

Wagner down to Sault

Treinamento em Sault dois dias antes da prova em 2009

Deu forrobodó no forró

Xilogravura de J. Borges - O Forró dos BichosA primeira vez foi no Guia da semana. Uma pequena nota no site, dessas de curiosidades “Você sabia?”, dizia que a origem da palavra Forró vem do inglês For All. Eu acusei no Twitter!

Mas, agora, a coisa fica séria. A segunda menção em pouco tempo é do curso de inglês do novo Telecurso 2000 na Globo transmitido no dia 08/06 (aula do fundamental, 3o episódio). Os fundamentais aprenderam naquele dia o seguinte:

A palavra Forró apareceu no norte do Brasil em uma época em que o inglês era o idioma falado pelos estrangeiros que viviam por ali. Na entrada dos bailes, eles colocavam um aviso em inglês que dizia: For All, que em português significa Para Todos. Mas para o povo que não sabia inglês, aquelas palavras eram sinônimo de baile. E, no sotaque do povo, tornou-se “Forró”.

Sei! Vamos lá cara-pálida, que norte? Que estrangeiros? Por ali, onde? A teoria é engenhosa! (O episódio pode ser visto neste blog não-oficial do Telecurso. Você aproveita e aprende a usar os pronomes He, She e It. Aqui, o link direto para o Youtube, a partir do 3´35 da primeira parte da aula).

A brincadeira não é de hoje. Uma das teses que já ouvi é que Forró vem da presença das empresas inglesas ferroviárias no Nordeste, cujos construtores davam e abriam as festas “Para Todos”. Outra teoria que inspirou até filme, é que Forró teria vindo sim do inglês. Mas americano. No “For All – O Trampolim da Vitória” (1997), Luiz Carlos Lacerda (o Bigode) e Buza Ferraz pararam a cidade de Natal para mostrar como os americanos mudaram o pacato ritmo de vida com a sua base aérea Trampolim da Vitória (na verdade, localizada no município vizinho Parnamirim) na Segunda Guerra Mundial. E advinha…entre aviões bombardeiros, calças jeans, chiclete, big bands, batizaram o danado do Forró naquelas mesmas festas abertas que aqueles ingleses das ferrovias davam. (O interesse mesmo era o forrobodó com as belas mocinhas da sociedade natalense).

Bom, agora para decidir se Forró é de origem inglesa ou americana precisamos de uma verdadeira guerra de independência. Será a palavra Forró um daqueles casos do qual de tanto se falar uma lenda ela se torna uma verdade?

E parece não ser o único caso. Há “lendas” de que algumas palavras e expressões no Nordeste tenham surgido da presença dos ingleses para construir e operar as primeiras ferrovias na região. E, neste mesmo Nordeste, rendem boas fábulas.

Xilogravura de J.  Borges - Forró Pé-de-Serra

Com o forrobodó armado, só uma verdadeira guerra de independência para decidir se o forró vem dos Estados Unidos ou da Inglaterra

Uma dessas palavras que já ouvi de muita orelhada seria “Caningado”. É quem vive ou a ação de ficar “em cima” de outra pessoa. O batismo da palavra: havia um capataz na ferrovia chamado Canningan, coisa assim. Quem vivia puxando o saco do rapaz, logo era chamado de “caningado”.

Outra palavra muito cantada especialmente em Natal é “Reiar”. Sua forma mais usada é no reflexivo: reiar-se. Reza a lenda (mais uma vez, de muita orelhada) que também teria origem numa situação como a do Caningan, quando os trabalhadores aproveitavam para não trabalhar ou enrolar na ausência de um capataz (o tal Caningan?). O grito de alerta do retorno do tal capataz seria “Rail, Rail!”, como se fosse “Cuidado, cuidado!”. E daí o reflexivo para que se tornasse um sinônimo de estar “fud…”. Hoje, é uma interjeição amplamente usada em Natal para toda e qualquer surpresa.

Até onde isso tem uma base histórica, aí entrego aos historiadores e linguistas. De fato, os ingleses estiveram no Nordeste construindo ferrovias. E os americanos ocuparam algumas bases militares entre o Norte e Nordeste, especialmente nas cidades de Belém, Fortaleza, Natal e Recife.

Mas a origem de Forró vem de forrobodó, palavra que designa confusão. É mais plausível. Esteticamente, o forró é uma bela de uma confusão. E musicalmente e etimologicamente, tem suas origens no faux-bourdon do século XV (que em um sentido figurado deu origem a  bordão, repetição, segundo o Houaiss).

Tem gente com muito bom senso (que é o que falta ao mundo) que foi lá longe para explicar. A pesquisadora em linguística Nelly Carvalho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), evoca o imprescindível Luís da Câmara Cascudo e outros pesquisadores e tem inclusive uma análise para essa vontade de que Forró seja anglosaxão:

“Uma falsa etimologia [de forró] ganhou o mundo, aprofundando a dívida, a submissão ou a dependência da nossa língua em relação ao inglês…”.

Sem querer me delongar mais aqui, ela explica direitinho todo esse forrobodó na coluna dela. Há porém até desserviços como este. E dúvidas de quem bem conhece o idioma, e levanta a lebre que a acepção mais certa do idioma inglês para a expressão seria “For Everybody”.

José Gomes da Silva, o Jackson do Pandeiro, tem inglês no nome. E agora, Telecurso, é mais uma prova de que Forró é um For All?

E aí Telecurso, o que você tem a dizer? Sou trabalhador e acordo cedo de vez em quando, mas não dá para acreditar que os produtores e educadores de um programa educativo formulado para corrigir as discrepâncias educacionais do País nem deram o benefício da dúvida. Isso é sério! Até a Wikipédia -o horror dos professores- fez isso. Se tivessem ido lá, não seriam tão categóricos em contar uma historinha curiosa mas “bonitinha” para inglês ver.

E, agora, a loteria ParaTodos também é uma criação dos ingleses “For All”? Quem sabe, a Caixa Econômica Federal saiba explicar.

Foda a sorte, né?

Foda a sorte né?

Na esquina da rua Augusta com Matias Aires. É né!