O Clarofail e a cara da guerrilha virtual

#clarofail

Twitter, Flickr e blog. Reúna-os em uma mesma plataforma daquelas bem simples. Nada que já não exista por aí na internet. Pegue um mote justo: uma reclamação que encontra eco porque alguém certamente vive ou viveu o mesmo problema. E adicione a palavrinha-chave do momento: conclame à colaboração. A nitroglicerina está feita e responde pela alcova de clarofail.com.

Uma dessas pequenas revoluções na internet se deu na última sexta-feira (24/07). A personificação do conceito de maus serviços que se traduz na rede por “Fail” teve a operadora de telefonia celular Claro escolhida a dedo. Tudo devido ao desrespeito ao consumidor. No fim daquela tarde, o Clarofail “bombava” com os retwitts (o “forward” ou “encaminhar” da sinfonia de pardais do Twitter) em tempo real. Ou seja, não só quem é usuário do microblog viu, mas todo ser na face da Terra com acesso à rede. Em uma semana foram mais de 600 retwitts e mais de 40 fotos com a tag #clarofail dentro do Flickr.

A ação de guerrilha virtual se deu em pouco mais de uma hora quando a jornalista e blogueira Thaís Pontes lançou, no final da tarde da sexta-feira, o primeiro petardo no Twitter avisando do seu site Clarofail. Pouco tempo depois, recebe a primeira chancela dentro do próprio microblog via @gustnogueira, lá no Pará: “#ClaroFail é um ótimo exemplo da integração entre redes sociais e do poder da comunidade”. Em seguida, a disseminação passa pelo crivo dos embaixadores da internet como o Cristiano Dias (@crisdias), com seus mais de 11 mil seguidores. Aí, já era. Catorze horas depois, já no sábado, a jornalista comemorava 315 retwittes e mais de 30 comentários no site-blog. Para ela, o resultado foi melhor do que a encomenda.

Thaís diz que não inventou nada e só quis engrossar o coro. Apesar dos seus 23 anos, não é criança na história e  não foi uma simples aventura de alguém que resolveu pegar as ferramentas disponíveis na net. Thaís Pontes trabalha em uma empresa de mídias sociais. E percebeu que estava com os ingredientes e com a insatisfação certas para fazer o seu coquetel molotov virtual. A carinha bonita – do site – também ajudou.

A jornalista parece ter chegado a uma fórmula certa para expor as tais das conversações que existem dentro da internet. Boa parte das mensagens no blog saudava a iniciativa e sucesso da plataforma. Para a perfeição da ação, só faltou o Samamba (que postou vídeos de sua saga ao tentar cancelar o serviço da Sky), melhor falando, a disponibilidade para as postagens em vídeo. Mas a criadora defende não ser essencial contar com todos as plataformas para honrar o conceito de integração.

Há ainda quem tenha dito que a plataforma fez saltar novamente o velho paradigma do McLuhan e a ladainha do “meio é a mensagem”. Mas o site-blog-flickr-twitter integrado tal como criado por Thaís proporcionou ao internauta uma dinâmica muito grande e transparente de participação. Transparente porque da mesma forma como havia gente criticando os serviços, havia também pessoas que usam a operadora, que não tem nada contra, estão satisfeitas e informavam que, na região delas, é quem oferece o melhor serviço. Pelo menos de sinal. Até a própria Claro podia ver o que estavam falando dela minuto a minuto. Esses são os paradoxos da rede.

Saindo do campo das elucubrações teóricas, pode ser que o dono da Claro, o mexicano Carlos Slim, nem tenha se dado ao trabalho de saber o que estava acontecendo. Ele vai continuar lá, recebendo os seus milhões. Mas com qual cara a Claro Brasil amanheceu no outro dia após ao “friday bloody friday” da Thais Pontes? Esperamos que com uma certa cara de ressaca, com algum café, Coca-Cola e Engov. “Certamente quem viu vai pensar antes de contratar a operadora”, espera a criadora do blog.

A Claro, pelo menos, pode se vangloriar da satisfação de ter sido escolhida para inaugurar, mesmo que indesejavelmente, uma nova formulinha que tem tudo para se repetir algumas vezes daqui por diante na Internet. E, quem sabe, se a coisa pega, os motoristas que passam pela avenida Paulista agradecem!

Internetcidade_Você  juntou blog, Twitter e Flickr. Nada que já não exista na internet. Mas o que você acha que foi a nitroglicerina da iniciativa?

Thaís Pontes_A idéia era justamente usar o que já existe na internet. Fazer uma ação a partir de meios já utilizados pelos internautas é o segredo para que participem. Mas o que mais fez bombar a divulgação do site é que as pessoas se identificaram. Se a Claro respeitasse o consumidor e meu caso fosse isolado, ninguém divulgaria.

Site Clarofail.com

Coquetel molotov virtual: mix de plataformas com insatisfação ecoou nos usuários e fez o site "bombar"

IC_Há muitos sites de reclamações na internet. Mas no seu blog, há comentários elogiando a plataforma usada. Parece ser um boa receita de publicação do conceito de fail criado na rede. Como surgiu a ideia?

Thaís_Todo mundo já usa o #fail relacionada a coisas ruins. E a tag #clarofail já era muito usada pelos usuários da rede que reclamavam da operadora. Eu não inventei nada, só quis engrossar o coro!

IC_Para a integração total só faltou o Samamba…ou melhor, a postagem de vídeos…

Thaís_Não acho que toda ação tem que estar em todas as plataformas. Tive a ideia de agregar fotos e twittes, achei que seria mais original e que funcionaria bem.

IC_Como você avalia o alcance da iniciativa? Você tinha ideia de que a repercussão chegasse ao tamanho que chegou? Está satisfeita?

Thaís_Acho que foi um sucesso! Eu imaginei que daria o que falar, mas superou minhas expectativas. Foram mais de 600 retwittes e mais de 40 fotos “tagueadas”. O blog teve mais de 5 mil visitantes únicos. Em menos de 24 horas a Claro entrou em contato comigo resolvendo o problema.

IC_Você acredita que vão surgir outros blogs-sites do tipo?

Thaís_Já existem. Como por exemplo o http://timenganei.blogspot.com. Mas de um modo geral acho que minha iniciativa incentivou as pessoas a botarem a boca no trombone quando precisarem.

Alexandre Ferreira (via Flickr)

Qual cara tem? Para Thaís, o segredo está em chamar à participação por meios já usados na net. Acima, foto do Flickr com a tag

IC_O Twitter vem pautando bastante as mídias tradicionais. Mas até onde pude acompanhar, o Clarofail ainda não rendeu nos jornais.  O que você acha que aconteceu?

Thaís_Em nenhum momento minha intenção foi pautar reportagens. Nem pensei nisso. Minha intenção era fazer barulho nas redes sociais.

IC_Aproveitando sua atuação em uma agência de mídias sociais, os departamentos de comunicação tendem a tratar ações como essa como fogos fátuos. Começam, ganham força, mas logo depois apagam…

Thaís_Toda ação em mídias sociais é assim. Não existe moto-perpétuo com esse tipo de ação. Mas certamente quem viu o clarofail.com vai se lembrar quando for escolher uma operadora.

IC_Mesmo que as corporações ainda não deem a devida atenção a ações como essas, elas serão cada vez mais comuns?

Thaís_Certamente elas serão cada vez mais comuns. O cidadão tende a descobrir o poder das mídias sociais. Agora, para fazer um grande movimento colaborativo e chamar atenção não precisamos mais juntar todo mundo na Avenida Paulista.

3 Respostas para “O Clarofail e a cara da guerrilha virtual

  1. Muito legal o post! Obrigada pelo espaço 🙂

  2. Infelizmente as empresas ainda não aprenderam a dialogar na web… só investem em call centers…

  3. Pingback: O poder do consumidor na era das mídias sociais

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